Memorial Noel Guarany

Espaço dedicado para os fãs e apreciadores do trabalho do "Cantor que cantou a Bossoroca" - Noel Guarany.

A HISTÓRIA DE NOEL

Noel Fabricio da Silva, Noel Guarany, era filho de João Maria Fabricio e Antonina Borges do Canto, tendo por avó, a senhora Vergina Fabricio da Silva. Nasceu em 26 de dezembro de 1941. Na adolescência, aprendeu, de maneira autodidata, o idioma guarani, bem como a compor, tocar e cantar.  Em 1960 emigrou para a Argentina, onde trabalhou como tarefeiro de erva-mate, lenhador e balseiro. Esteve em Buenos Aires, depois foi para o Uruguai, Paraguai e Bolívia, lugares onde conviveu com muitos músicos, aperfeiçoou sua arte de tocar violão e aprendeu muito sobre a cultura musical desses países

No início da década de 70, enquanto a cultura nativa era representada por nomes como Teixeirinha e Gildo de Freitas, Noel  fazia composições destacando as características da região em que tinha nascido.  Com influências de latino-americanos como Athaualpa Yupanqui e Antonio Tarragô Ros, Noel Guarany foi um dos primeiros a percorrer a América levando com sua música a cultura gaúcha, e colhendo  ensinamentos que utilizou como subsídio para criação de suas músicas durante toda a sua futura carreira.

No final da década, apresentou alguns programas radiofônicos nas rádios de Cerro Largo e São Luiz Gonzaga, bem como nas rádios Gaúcha e Guaíba de Porto Alegre, RS. Em 1970, lançou, em conjunto com Cenair Maicá, com o qual vinha se apresentando pelo Rio Grande do Sul e em festivais na Argentina, um compacto simples, com as músicas Filosofia de Gaudério e Romance do Pala Velho.

No ano seguinte, grava o seu primeiro LP, Legendas Missioneiras, pela gravadora RGE, que traz, entre outras, parcerias com Jayme Caetano Braun, Glênio Fagundes e Aureliano de Figueiredo Pinto. Neste disco, além das músicas constantes do compacto anterior, estão presentes outras pérolas de seu repertório, como Fandango na Fronteira, Gaudério e Eu e o Rio.

Em 1973 sai Destino Missioneiro, pela gravadora Phonogram/Sinter, no qual repete algumas das parcerias do disco anterior, bem como traz composições próprias e de Barbosa Lessa e uma parceria com Aparício Silva Rillo. Neste disco, estão presentes grandes músicas como Destino Missioneiro e Destino de Peão.

Seu terceiro LP é Sem Fronteiras, lançado em 1975 pela EMI/Odeon, que está repleto de músicas que acabaram se tornando clássicos do cancioneiro gaúcho, como Romance do Pala Velho, Potro Sem Dono (de Paulo Portela Fagundes), Filosofia de Gaudério, Balseiros do Rio Uruguai (de Barbosa Lessa), Décima do Potro Baio e Chamarrita sem Fronteira (as duas últimas, temas missioneiros recolhidos e adaptados por Noel Guarany), entre outras.

No ano de 1976, Noel Guarany grava em parceria com Jayme Caetano Braun, de maneira independente, o LP Payador, Pampa, Guitarra. Gravado parte na Argentina e parte em São Paulo, o disco conta com a participação de grandes músicos argentinos. Em 1977 a RGE relança o disco Legendas Missioneiras, de 1971, com o título de Canto da Fronteira. Em 1978 sai o LP Noel Guarany Canta Aureliano de Figueiredo Pinto, pela RGE, que resgata a obra e a memória de um dos grandes poetas do regionalismo gaúcho.

No ano seguinte, sai o disco De Pulperias, ainda pela gravadora RGE. Constam deste disco as músicas En el rancho y la cambicha, Rio de Los Pajaros e Milonga del peón de campo, de Mario Millan Medina, Anibal Sampayo e Atahualpa Yupanqui, respectivamente. Em 1980 sai Alma, Garra e Melodia, em que se destacam as músicas Maneco Queixo de Ferro e Índia cruda. Neste mesmo ano ocorre o show no Cinema Glória, na cidade de Santa Maria, que mais tarde, em 2003, viria a se tornar o disco Destino Missioneiro - Show Inédito.

No ano de 1982, é lançado o LP Para o Que Olha Sem Ver, pela RGE, título que remete à música Para el que mira sin ver de autoria do cantor e poeta argentino Atahualpa Yupanqui (presente também na composição Los ejes de mi carreta). Além das citadas, estão presentes as músicas Boi Preto, Na Baixada do Manduca e Adeus Morena, músicas de inspiração folclórica.

Neste ponto, Noel Guarany, já com os primeiros sintomas da doença, começou a afastar-se dos palcos, e acabou redigindo uma carta aberta à imprensa, na qual reclama do tratamento recebido pela gravadora. Em 1985 retira-se definitivamente dos palcos, em cumprimento ao prometido na carta de 1983. No ano de 1988, em conjunto com Jorge Guedes e João Máximo, lança o disco A Volta do Missioneiro. Nos próximos 10 anos, o grande gaúcho, cada vez mais debilitado por uma doença degenerativa no cérebro, permaneceu recolhido em seu sítio na localidade de Vila Santos, no município de Santa Maria.

Morreu no dia 06 de outubro de 1998, na Casa de Saúde de Santa Maria, tendo sido enterrado em Bossoroca,  como dizia nos versos de Filosofia de Gaudério: "Se eu nasci para cantar, eu hei de morrer cantando". Em sua homenagem foi construido junto ao cemitério municipal, um memorial que simboliza sua arte e sua orígem, representada pela cruz missioneira, pelo pala que deu orígem a uma de suas mais famosas composições, Romance do Pala Velho e pelo violão, companheiro inseparável em suas andanças pelas missões do Rio Grande e do lado oriental.

DISCOGRAFIA

1970 – Lança, com Cenair Maicá, um compacto com as músicas Filosofia de Andejo e Romance do Pala Velho

1971 – Disco Legendas Missioneiras

1973 – Disco Destino Missioneiro

1975 – Participa do disco Música Popular do Sul e lança o álbum LP sem Fronteiras

1976 – Lança, na Argentina, o disco independente Payador, Pampa e Guitarra

1977 – Disco Noel Guarany Canta Aureliano Figueiredo Pinto

1979 – Disco De Pulperia

1980 – Disco Alma, Garra e Melodia

1982 – Disco Para o que Olha sem Ver

1988 – Disco A Volta do Missioneiro

ESPAÇO NOEL GUARANY

Localizado no saguão de entrada da prefeitura municipal de Bossoroca o espaço Noel Guarany resultou da necessidade de mostrar à população e visitantes, objetos pessoais deste missioneiro, como fotos, letras de musicas, um de seus violões e outros pertences que sintetizam sua vida e sua arte. A intenção de criar este local surgiu por ocasião de seu velório, no dia 6 de outubro de 1998, sendo prontamente aceita por todos, principalmente, pelos familiares de Noel, sua esposa Neidi Fabrício e sua filha Laura. Posteriormente, o Governo Municipal iniciou a estruturação do local o qual foi inaugurado no dia 6 de outubro de 2007, sendo que à noite foi realizada uma das edições do Tributo a Noel Guarany, com a participação efetiva de vários artistas, simpatizantes e comunidade local e regional.

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Acervo fotográfico

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LETRAS DE MUSICAS JÁ GRAVADAS E INÉDITAS

Noel Guarany, quando iniciou suas gravações nos antigos LPs, enfrentou o crivo da censura da época, o que pode ser constatado através de observações e carimbos da Censura Federal, em alguns de seus trabalhos.

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OUTROS DOCUMENTOS

O trabalho de Noel Guarany foi reconhecido internacionalmente. Além dos críticos de musica do Brasil, o missioneiro obteve reconhecimento em países como Argentina e Paraguai. Mostramos abaixo, documentos raros, como autorizações para gravação e outros.

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NOEL GUARANY - Um artista incomparável - um homem polêmico

Aqueles que conheceram e conviveram com Noel Guarany, sabem de seu temperamento difícil, com posições antagônicas e idéias que estavam além de seu tempo. Foi um defensor ferrenho da verdadeira musica missioneira, não admitindo o uso da gaita ou acordeom, que ele julgava o mais gringo dos instrumentos. No entanto, de forma contraditória, este instrumento o acompanhou em seu último trabalho, "A volta do missioneiro". Era totalmente contrário aos festivais nativistas, que segundo ele, criavam "gaúchos fantasiados" e desvirtuavam o ritmo característico desta região. Com os CTG - Centro de Tradições Gaúchas, não era diferente. Para ele, um CTG era apenas um centro comercial que sobrevivia graças a exploração de uma cultura distorcida e incompatível com a realidade do Rio Grande do Sul. Inumeras histórias são contadas, mostrando situações vividas por Noel. Um fato que deixou bem clara a sua posição diante da massificação da musicalidade missioneira, foi uma carta enviada ao jornal A Notícia, de São Luiz Gonzaga, em novembro de 1984, quando realizava-se o 1º Canto dos 7 Povos.

Abaixo, a íntegra desta carta.

"Santa Maria, 03 de novembro de 1984

Ao jornal “A Notícia”

São Luiz Gonzaga

Com tantas coisas boas que temos em S. Luiz, para apresentar, prestigiar e incentivar, está surgindo mais um maldito festival. Infelizmente na legendária e histórica S. Lourenço. São Lourenço é patrimônio cultural missioneiro São Luizense. E mesmo assim os debilóides tiveram a infeliz idéia de desvirtuar o potencial criativo gratuito de S. Luiz. Graças há quase 200 anos de cultura hispano-aborígene temos uma unica região neste continente brasileiro, à qual eu abri uma dica muito importante: “A GUITARRA NAS MISSÕES” e não respeitam a minha idéia tocando o mais gringo dos instrumentos que é a gaita. Como diz a quadrinha popular:

A GAITA MATOU A VIOLA, O FÓSFORO MATOU O ISQUEIRO

A BOMBACHA O XIRIPÁ,  E A MODA O USO CAMPEIRO.

Por isso nós os missioneiros legítimos usaremos a guitarra e desprezaremos a gaita ou acordeon. Os festivais estão descaracterizando a cultura lírica da minha terra, com os malditos festivais. Peço pelo amor de Deus que não cometam mais esse crime contra nossa cultura. Quem está falando aprendeu e saiu na América a lutar pela arte missioneira e se hoje nossa terra é conhecida como Patrimônio Histórico, Lírico e Cultural, muito se deve a este “bugrinho”, que mesmo sem apoio moral e financeiro, tendo o desprezo de 95% dos que poderiam ter participado comigo do “ovo de Colombo” que hoje serve de alimento pra aves de rapina que não tem coragem de se submeterem ao ridículo de criar alguma coisa em suas respectivas regiões e estão tirando proveito da Santa Arte Missioneira. Infelizmente os João de Almeida Neto da vida, hão de viver as minhas custas, da mesma forma como os alienados de festival, como é o Luiz Borges. Por isso, e porque eu tenho condições de sozinho mostrar a arte missioneira ao mundo, como já mostrei e se precisarem de mim, mostrarei em S. Lourenço esta Santa Arte, que me custou uma existência de sangue e suor.

Noel Guarany"

TRIBUTO A NOEL GUARANY

"Por tudo que representa, dentro da canção nativa,
inspiração sempre viva que da terra se alimenta,
quando ao mundo se apresenta é o indio xucro que assoma
o pajador sem diploma que veste, como couraça,
o próprio impulso da raça, que a história mata,
mas não doma."
 
 
Era o dia 08 de maio de 1998, 20,30 horas, quando, com estes versos, o apresentador Jairo Velloso, deu início a um dos mais significativos gestos de homenagem e reconhecimento à um dos maiores nomes da musica missioneira, Noel Guarany. Ja debilitado por uma doença degenerativa que o impossibilitava de exercer sua funções, tambem enfrentava problemas financeiros. Sensibilizados com a situação do grande expoente da musica missioneira, a família Fabricio e o Rotary Club de Bossoroca, tiveram a inciativa de promover este evento que foi denominado TRIBUTO A NOEL GUARANY. A intenção era mobilizar a grande legião de fãs, amigos e admiridadores de Noel. João Antunes, que registrou este momento numa matéria publicada no Jornal A Notícia, descreveu aquela noite, como um momento memorável, recheado de expressivos nomes da música Riograndense, que se ergueram em coro num tributo ao "Cantor da Bossoroca".

Passou-se o tempo e em outubro de 2006, por iniciativa do Govêrno Municipal, foi realizado a segunda edição deste evento, desta vez com um novo formato, quando também, ocorreu o lançamento de um selo com a imagem do cantor missioneiro, que seria utilizado nas correspondências oficiais. No ano seguinte, em 2007, mais uma vez aconteceu o Tributo a Noel, com inumeras participações de artistas locais e regionais.

MAUSOLÉU DE NOEL GUARANY

"Uma justa homenagem ao "Cantor que cantou a Bossoroca", foi idealizado pela municipalidade da Buena Terra Missioneira no ano de 1999. Durante a realização da 5ª edição do Manancial Missioneiro da Canção, foi inaugurado o mausoléu onde repousam os restos mortais de Noel Fabricio da Silva - Noel Guarany. Este mausoléu é um conjunto formal e estético com significação histórica relativa ao Cantor Missioneiro, que em sua obra, interpretou com  fidelidade, nossa historiografia. Neste conjunto, temos o mausoléu que é o sepulcro em que repousa o ilustre filho da Bossoroca. Suas linhas suaves dispõe de uma CRIPTA que lembra o estilo barroco do período colonial brasileiro, objetivando assinalar sua marcante passagem e que pereniza o reconhecimento popular. No contexto desta simbologia, encontramos a CRUZ DE LORENA, que marca o período da civilização Jesuítica-Guarani, tantas vezes citada na obra de Noel. O VIOLÃO, companheiro inseparável nas andanças do missioneiro, pelo estado e além fronteiras. O PALA VELHO, posto sobre um dos braços da cruz e que foi tema de uma de suas composições, "Romance do pala velho". PAREDES DE PEDRAS, que reportam às grandes sesmarias da região, suas cercas de pedras e as ruínas das antigas reduções. MOIRÕES COM VARAS, que se constituem numa lembrança das lides campeiras, no manejo do gado, dos dia de marcação, castração, aparte, etc., e lembram as antigas mangueiras, com troncos e varas redondas. BLOCO DE CONCRETO, propositalmente forte e rijo onde está um trecho da obra poética de Noel, com a força de sua comunicação em que a letra aludia o prenuncio de sua morte. CORRENTE E FERRADURAS, que representam uma tentativa de se reportar ao tempo das revoluções que marcaram a região Missioneira, desde as invasões correntinas, portuguesas, a revolução farroupilha  e outros fatos que marcaram a conquista deste chão colorado. LEIVADO DE GRAMA MISSIONEIRA, tapete de grama lembrando a pampa Rio-Grandense, onde proliferou a criação de gado, habitat do povo Guarani e do gaúcho indomável. Este projeto é de autoria do arquiteto Plinio Ivar da Rosa, e encontra-se localizado junto ao cemitério municipal, na entrada da cidade.

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